terça-feira, 2 de abril de 2013

Ainda existem anjos bons
por David Orling para o Jornal Informativo do Vale

Os anjos de Deus sempre estiveram em nossas histórias, em nossos sonhos e em nossas vidas. Hoje em dia poderíamos questionar as veracidades dos relatos e das experiências. Há tantas crises nos dias de hoje que podemos até falar em crise de anjos. Onde eles estão? Nos não os temos mais ou eles não existem mais? Devemos ter amadurecido tanto que deixamos de lado as coisas infantis fruto de uma herança mitológica de nossos antepassados? As respostas podem ser várias, mas as verdades podem ser únicas visto que aquilo que nos toca é sempre pessoal e depois comunitário. Nesse sentido nada é mais precioso do que o sentimento das pessoas. Talvez por isso pouco importe tentar justificar um tratado geral sobre os anjos.
Mas hoje, quero sorrir, quero vê-los de outra maneira. Não quero desprezar a natureza dos anjos e tão pouco justificá-la. Mas que eles me perdoem, pois hoje, falo de anjos tão humanos, tão simples e complexos que o melhor dos paradoxos se esvazia nos meus pensamentos.
Anjos humanos? Sim, tenho visto tantos deles que até me encorajei a me tornar um. Talvez eu consiga. Tenho visto muitos anjos bons que mais e mais me fazem acreditar num mundo melhor. Quando olho para eles, sou encorajado a não desistir, a acreditar sempre, a ter esperança. Eles são portadores de utopias que podem se tornar topias, de sonhos que podem se realizar. Eles são anjos de Deus, anjos dos tempos que ainda acreditávamos. Sim, ainda temos entre nós pessoas que são anjos bons. Na verdade são pessoas que amamos ou aprendemos a amar. São pessoas que sentimos em nossa alma. São ainda dessas pessoas vítimas da nossa carência emocional, jogadas em nossas vidas como que por acaso. Pessoas que não esperávamos contar, que não imaginávamos encontrar. São pessoas que nos fazem entender as palavras do poeta Mário Quintana: “Somos anjos de uma asa só, apenas abraçados podemos voar”.
Existem pessoas que desde a primeira vez que os vimos, fomos tocados como que por um mistério. Nesses momentos sentimos a manifestação do sagrado amor, da eterna amizade, respeito, compaixão e cuidado. Essa manifestação de algo divino, é como uma intuição que sempre nos acompanha, lembrando-nos da nossa incapacidade de retribuir tamanha afeição.
Por isso, minhas palavras se esgotam no tempo e se empobrecem ao falar de um anjo. Elas se esgotam, mas me restam sentimentos de reverência, de sacralidade, de respeito por essas pessoas tão lindas e sensíveis.
Poderíamos sonhar os sonhos mais lindos, mais significativos, mas nada, porém nos daria a paz tão indizível que vem do céu nas asas de anjos tão bons. Alguns poderiam dizer que anjos não têm asas. Outros poderiam dizer que os anjos não são belos. Muitos diriam que os anjos não existem. Eu responderia com um sorriso no rosto, que tenho visto tudo isso: asas, beleza e existência. Talvez, nossa descrença seja fruto de nossa “maturidade” que relega ao que se pode experimentar o ser de todas as coisas. Mas, até essa consideração da experimentação para a existência, declara e manifesta os anjos de Deus, basta observar as experiências de muitas pessoas que vivenciam o sagrado da vida humana.
Sabemos bem que nossos olhos tem dificuldade em enxergar a luz. Sabemos ainda que temos dificuldades em andar na luz. Mas nosso coração deseja, anseia pelo belo, pelo sagrado e pelo amor.
Onde estamos que duvidamos tanto? Onde nossos pés pisaram para que não saibamos os sons do céu? Que tipo de seres humanos temos sido para que não vejamos anjos agindo? Como diz Leonardo Boff: “A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”.